Diabetes e Transtornos Alimentares: uma situação de risco

O que são transtornos alimentares (TA)?

São distúrbios caracterizados por alterações no comportamento alimentar que causam problemas físicos e psíquicos. Estão classificados no DSM-IV e DSM-V (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders). Os mais conhecidos são: Anorexia Nervosa (AN), Bulimia Nervosa (BN) e Transtorno da compulsão alimentar (TCA). Para desenvolver um TA, a pessoa precisa ter situações ou fatores que poderiam ser precipitantes do distúrbio.

São duas a quatro vezes mais comuns em jovens com diabetes tipo 1, sendo que o mais prevalente é a bulimia nervosa, caracterizada sobretudo pela manipulação da dose de insulina com o objetivo de perder peso (6,7 a 20.9% dos jovens de 15 a 35 anos de idade). São muitas vezes difíceis de diagnosticar, pois podem passar desapercebidos por parte dos familiares e também por negação do próprio paciente, seja por medo, vergonha ou dificuldades psicológicas. No diabetes tipo 2, o TA mais frequente é o transtorno da compulsão alimentar (cerca de 34,8%), sendo que a maioria tem sobrepeso ou obesidade.

Na AN, a principal característica é a perda de peso, (IMC – Índice de Massa Corporal ≤ 17 kg/m²) e a negação de se alimentar adequadamente. É acompanhada de um importante distúrbio da imagem corporal. Na BN, após comer de forma compulsiva, são utilizadas as chamadas práticas purgativas: vômitos, enemas, laxantes e/ou diuréticos e prática exagerada de exercícios físicos na tentativa de eliminar o que comeu. No TCA, ocorrem episódios de compulsão alimentar (binging) no qual a pessoa ingere grandes quantidades de alimentos em um pequeno intervalo de tempo acompanhado de sentimento de culpa, mas sem usar as chamadas práticas purgativas ou compensatórias.

Principais sintomas e sinais de alerta de transtornos alimentares no diabetes

No diabetes tipo 1, o TA mais frequente e de maior risco é conhecido como Diabulimia. Consiste em omitir, pular ou manipular a dose de insulina com o objetivo de perder peso. Como resultado, ocorre eliminação de calorias através da urina (glicosúria), pois existe um estado quase permanente de hiperglicemia. Geralmente é um comportamento escondido. Porém, alguns fatores podem chamar a atenção dos profissionais de saúde e dos familiares:

Internações frequentes por cetoacidose diabética; um histórico de hemoglobinas glicadas altas; hipoglicemias graves sem motivo aparente; pedidos constantes de troca de plano alimentar; recusa a pesar-se nas consultas; canetas ou frascos de insulina que demoram a terminar apesar da dosagem prescrita; baixo rendimento na escola; tendência a um humor depressivo e/ou ansioso; retardo no desenvolvimento (baixa estatura) e no aparecimento dos sinais físicos da puberdade; aparecimento de complicações crônicas precoces (com cerca de 4 anos ou menos de diabetes) como retinopatia, nefropatia e/ou neuropatia.

Prevenção dos transtornos alimentares

É fundamental a educação dos profissionais de saúde da equipe multidisciplinar (endocrinologista, nutricionista, enfermeiro, psicólogo) bem como orientação da família, que acompanham e assistem a pessoa com diabetes com relação aos sinais de alerta e fatores de risco para os transtornos alimentares. Eles são graves e precisam ser diagnosticados o quanto antes para que o tratamento seja adequado e possa prevenir a ocorrência de complicações agudas e crônicas de início recente nos pacientes com diabetes.

Referências:

1- Diretrizes Sociedade Brasileira de Diabetes 2015-2016; Gen – AC Farmacêutica

2- Stein D and cols. Extreme Risk-Taking Behaviors in Patients With Eating Disorders. Front Psychiatry.2020;11:89.

Dra. Claudia Pieper
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  • Mestre e Dra. em Endocrinologia pela UFRJ
  • Cocoordenadora do Curso de Pós Graduação em Endocrinologia da PUC-RIO
  • Membro do Capítulo Hispano Lantino-americano de Transtornos Alimentares da Academy for Eating Disorders (AED)
  • Membro da Academy for Eating Disorders (AED)
  • Educadora em Diabetes certificada pela IDF/SACA (desde 2004)
  • Membro do Departamento de Educação em Diabetes da SBD
  • Autora do livro “Diabulimia: uma combinação perigosa” -Editora: AC FARMACEUTICA, 2014