Cuidados de Doenças Crônicas Não Transmissíveis na Atenção Primária do Brasil é Destaque durante a Assembleia Geral da ONU

 Durante a Assembleia Geral da ONU, realizada em setembro em Nova Iorque, o FórumDCNTs apresentou a lideranças globais dos diferentes setores os desafios e propostas do Brasil para o enfrentamento das condições e doenças crônicas não transmissíveis (CCNTs/DCNTs). O coordenador da entidade, Dr. Mark Barone, esteve entre os únicos quatro representantes de organizações da sociedade civil convidados a compartilhar experiências na primeira sessão da Reunião de Alto Nível sobre Cobertura Universal de Saúde.

Dr. Mark Barone durante a Assembleia Geral da ONU. Foto: Reprodução

O propósito do encontro internacional foi fazer uma revisão abrangente da situação dos países que se comprometeram com a meta de atingir, até 2030, a cobertura universal de saúde (Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 3.8). Os debates visaram a identificação de lacunas e recomendações baseadas em evidências com a finalidade de aprovar uma declaração política orientada à ação para o cumprimento dessa agenda.

Barone participou do painel que discutiu a importância do desenvolvimento dos cuidados primários para que todos possam usufruir, sem distinção, de uma vida saudável e com bem-estar. Ele se pronunciou sobre a necessidade de equipar e capacitar os profissionais da atenção primária no que tange ao diagnóstico e manejo das CCNTs, com destaque às mais prevalentes, como diabetes, hipertensão, dislipidemia, obesidade e câncer.

“No Brasil, a atenção primária melhorou tremendamente a saúde materno-infantil, bem como a prevenção, diagnóstico e tratamento de doenças transmissíveis. No entanto, mais de 75% dos brasileiros morrem atualmente em decorrência das doenças crônicas não transmissíveis, muitas vezes de forma prematura”, destacou o coordenador do FórumDCNTs. Barone informou que pessoas com diabetes tipo 1 apresentam redução média de 25 anos de expectativa de vida no Brasil por falta de acesso a tecnologias e cuidados de qualidade. “Este cenário inaceitável é ainda pior em outros países de baixa e média renda, conforme revelam dados do T1D Index”, completou.

Barone afirmou que o Brasil começa a direcionar esforços de atenção primária para as CCNTs, com bons resultados em iniciativas locais. Nesse sentido, ele sublinhou a inclusão do teste Point-of-Care na rotina das equipes em Vitória da Conquista (BA), que levou a 1% de redução da hemoglobina glicada em pessoas com diabetes. O coordenador do FórumDCNTs também mencionou um projeto realizado em São Paulo (SP) que proveu à população acesso precoce a cuidados com a pressão arterial por meio da instrumentação e organização da atenção primária. Durante 15 meses de implementação, a intervenção acarretou o aumento de 300% no diagnóstico e controle da hipertensão, além de diminuição de 13% na ocorrência de acidentes vasculares cerebrais e de 12% de infartos.

Mais de um milhão e 300 mil pessoas morreram no Brasil em 2019 por complicações da hipertensão, de acordo com relatório global da Organização Mundial de Saúde (OMS) lançado em Evento Satélite à Assembleia Geral da ONU, com a presença de Barone, e da Dra. Sheila Martins, parceira do FórumDCNTs e Presidente da World Stroke Organization (WSO) e da Rede Brasil AVC, que teve papel fundamental para a implementação da iniciativa global HEARTS no Brasil. Em todo o mundo, são mais de 10 milhões de mortes anuais. Um bilhão e 300 mil pessoas vivem com a condição (um em cada três adultos no mundo), quase metade delas sem diagnóstico.

“Espero que estratégias brasileiras efetivas, como as que relatei, sejam escaladas para todo o país, com o incentivo contínuo ao engajamento de pessoas com condições crônicas não transmissíveis nos processos decisórios”, disse Barone. O coordenador do FórumDCNTs também conclamou os líderes de todo o mundo a investirem na atenção primária para que obtenham resolutividade diante dos desafios das doenças crônicas não transmissíveis e possam garantir a cobertura universal de saúde aos seus cidadãos.

Destaques das discussões sobre saúde na ONU

Debates na Assembleia Geral e em eventos satélites revelaram a preocupação das lideranças em saúde em priorizar com urgência os diagnósticos, lição aprendida com a pandemia de Covid-19.

As tecnologias Point-of-Care (testes diagnósticos realizados fora do ambiente laboratorial e próximos ao local de cuidado da população, como Unidades Básicas de Saúde) foram mencionadas pela secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde, Dra. Ethel Maciel, como importante estratégia para prover o acesso de populações remotas ao diagnóstico e monitoramento de doenças. Maciel enfatizou que os diagnósticos são fundamentais para reduzir as inequidades no Brasil, uma das prioridades do governo federal.

Foi lançada a Global Patient Alliance for Kidney Health, com o objetivo de dar voz às pessoas com doença renal crônica e defender políticas que aumentem o acesso ao rastreio e tratamento precoce. A condição afeta cerca de 840 milhões de pessoas no mundo, sendo que 90% delas não foram diagnosticadas. Sem os cuidados adequados, essas pessoas podem desenvolver insuficiência renal, o que exige diálise ou transplantes.

O Ministério da Saúde do Egito apresentou sua bem-sucedida campanha de detecção em massa e tratamento de casos de hepatite C. Desde o lançamento da campanha, foram testadas 65 milhões de pessoas. O país, que possuía uma das taxas mais elevadas de hepatite viral do mundo, ultrapassou o índice de 98% de cura. Os resultados levaram o Egito a investir no fortalecimento do diagnóstico de doenças crônicas como câncer, diabetes e hipertensão.

Mais informações em www.ForumDCNTs.org